16 de nov. de 2010

Uma mudança inimaginável até pouco tempo.

Gerdau: “Hoje está mais barato produzir aço nos EUA”

Presidente da Gerdau avalia que, além de elevar importação de aço, câmbio desfavorável eleva custo produtivo no país.

A apreciação do real ante o dólar, intensificada com o aumento da oferta da moeda no mercado americano, tem sido responsável por uma mudança inimaginável até pouco tempo.

A baixa do real transformou a produção de aço da Gerdau nos Estados Unidos mais barata do que a realizada no Brasil. "Uma coisa que jamais imaginei que iria dizer é que, hoje, é mais barato produzir lá", afirma o presidente da companhia, André Gerdau Johannpeter.

No caso do vergalhão usado na construção civil, principal produto da Gerdau, o custo de produção americano responde por 85 pontos em uma escala de 0 a 100 elaborada por um estudo da consultoria Bozz&Co.

Por aqui, a proporção sobe para 100 por 100. Não à toa, entre os seis produtores mundiais (Alemanha, Brasil, China, EUA, Rússia e Turquia) avaliados pelo estudo encomendado pelo Instituto Aço Brasil (IABr), em 2009, o Brasil lidera em custo produtivo. Posição na qual empata com a Turquia, mas que é superado pelo mercado nacional em impostos: 46 (Brasil) x 30 (Turquia) que compõe a escala até 100.

Johannpeter observa que também pesa na conta o preço menor de energia nos EUA, em especial o gás natural. "O metro cúbico do gás nos Estados Unidos está entre US$ 4 e US$ 5. Enquanto no Brasil, o preço varia entre US$ 11 e US$ 12", diz.

O presidente da Gerdau ressalta que a mudança da rota produtiva tem contribuído para que o Brasil receba um volume crescente do excedente de aço produzido em países onde o consumo não acompanha a oferta disponível, em função, ainda, dos efeitos da crise financeira global iniciada em 2008. "As empresas buscam países que estão crescendo, e o Brasil é um deles", pontua.

Concorrência desleal

O IABr estima a entrada de 8 milhões de toneladas de aço importado no Brasil neste ano, contra 5,8 milhões em 2009. A entidade avalia que o volume é excesivamente alto ante a sobra de 20,7 milhões de toneladas que o parque siderúrgico nacional terá em 2010.

Para Johannpeter, atual presidente do conselho diretor do IABr, a distorção precisa ser corrigida com ação rápida pelo governo brasileiro. O executivo se mostra preocupado, principalmente, com a concorrência desleal praticada por siderúrgicas de países afetados pela crise. "Para manter os altos-fornos funcionando, empresas têm praticado os piores preços, fazendo o excedente vir para o Brasil", diz.

O principal executivo da Gerdau indica, como ponto central para evitar a perda do mercado interno, brecar a guerra fiscal praticada por 13 portos brasileiros. Segundo Johannpeter, há casos em que os estados reduzem a taxa de ICMS a 2% para elevar a movimentação de carga de seus terminais.

Com isso, além do preço menor em função do excesso da produção mundial - calculada pelo IABr em 619 milhões de toneladas -, o importado recebe um tipo de incentivo fiscal que turbina sua concorrência com o aço nacional.

"A guerra fiscal tem tirado empregos no Brasil. Em Pernambuco, por exemplo, a redução de ICMS acontece no âmbito do programa Pró-Emprego. Só que os empregos estão sendo criados na China, na Turquia, na Coreia do Sul...".

Nivaldo Souza | 16/11/10 | 15h55

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