20 de jul. de 2010

Escolhido para ocupar a presidência da Telebrás.

O general da banda larga

O que pensa e o que planeja Rogério Santanna, o homem forte das telecomunicações no Brasil

Por Rodolfo Borges
Logo que foi escolhido para ocupar a presidência da Telebrás, em maio, com a incumbência de gerir o Plano Nacional de Banda Larga, o engenheiro Rogério Santanna fez questão de se reportar ao ex-secretário de Comunicação Luiz Gushiken. 

“O senhor já foi embora, mas eu ainda estou aqui com aquela missão.” O dever a que Santanna se refere começou em 2003, quando a falência da AES (dona de 51% da Eletronet) deixou ociosa uma rede de 16 mil quilômetros de fibra óptica. 
 
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Santanna: "Banda larga virou tema central e pode sobreviver a uma troca de governo"

“Quando Gushiken me chamou, disse que precisava de um general para tratar do assunto. Aceitei o desafio”, lembra Santanna. Durante esse tempo, o engenheiro mecânico, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), trabalhou para convencer pessoas fora e, principalmente, dentro do governo – entre elas a cética ministra da Casa Civil Dilma Rousseff – sobre a importância de democratizar o acesso à internet no País. Hoje, ele comemora o sucesso obtido. “A banda larga virou um tema central e tem força para sobreviver a uma troca de governo”, acredita. 

Nos próximos seis meses, Santanna – que com o novo cargo se transformou no homem forte do setor de telecomunicações no Brasil – terá que convencer o país de que não apenas a banda larga, mas o plano escolhido pelo governo fará bem aos brasileiros. 

O retorno de uma estatal como a Telebrás, cuja aposentadoria colaborou para o desenvolvimento da telefonia no país, assustou o mercado de telecomunicações. As empresas privadas alegavam que não era necessário o renascimento da empresa. Elas temem também que a empresa passe a competir com elas. 

Mas Santanna diz que a empresa quer justamente assegurar a competição e inovação no Brasil. “Vai acontecer exatamente o contrário do que o mercado prevê. O negócio vai aquecer”, disse à DINHEIRO.  Pelos cálculos do governo, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) vai movimentar R$ 13 bilhões até 2014 somente em investimento público.
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Recursos que já atraem empresas como a chinesa ZTE, que anunciou a intenção de construir uma fábrica de equipamentos de infraestrutura em Campinas. “A Telebrás pode ser nossa cliente”, disse o vice-presidente da ZTE, Wu Zengqi. 

Para fazer jus às promessas, a Telebrás precisa apertar o passo. A nova sede da empresa ainda não foi montada. Dela depende o início do trabalho de 60 técnicos da empresa que estavam cedidos à Anatel. A empresa já tem estatuto e o presidente do conselho será Cezar Álvares, assessor direto do presidente Lula, amigo de Santanna e a face oculta do projeto que recriou a estatal. 

A valorização de 36.000%  nas ações da Telebrás desde o início do governo Lula – em uma flagrante especulação na qual a CVM nada fez – colaborou para o clima de desconfiança que deve acompanhar a estatal pelo menos nos primeiros meses de existência, e que exige do presidente da empresa constantes desmentidos e garantias. 

O estatuto permite que a empresa atue na ponta, vendendo planos de internet diretamente aos consumidores. Mas ele garante que esta não é a intenção. Autoriza também comprar empresas fornecedoras, inclusive no Exterior. 

Na semana passada, o DEM entrou com ação no Supremo Tribunal Federal para impedir a ativação da Telebrás. “As críticas que recebemos são esperadas, mas e se a empresa funcionar, o que vai acontecer com esse discurso de ‘elefante branco’? E se o preço realmente baixar?”, questiona. Só quando isso se confirmar, o general terá, enfim, cumprido sua missão.

16/7/2010 - 21h


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