13 de jul. de 2010

Dos estados do sul, Santa Catarina é o que mais gasta com lazer e infelizmente também com fumo.

Como estão os gastos das famílias catarinenses

TIFANY RODIO | 13/07/2010 | 9h55

Os anos passam e a impressão é de que viver está cada vez mais caro. Uma pesquisa do IBGE, divulgada recentemente, comprova e quantifica essa sensação. O Portal EconomiaSC comparou valores do estudo que acompanhou as despesas das famílias no período de 2002/2003 e de 2008/2009. Hoje, os catarinenses têm que desembolsar quase R$ 1 mil a mais por mês.

Em 2002/2003, uma família de 3 a 4 pessoas, que morasse em Santa Catarina, gastava em média R$ 1.817,7 por mês com alimentação, habitação (aluguel, condomínio, telefone, gás, energia etc), transporte, saúde, vestuário, higiene, educação, lazer, fumo e despesas pessoais. Já em 2008/2009, esse custo aumentou para R$ 2.804,09.

O economista Ricardo Guedes explica que o aumento das despesas é consequência do apelo ao consumo, como acontece nas datas festivas, e do avanço da tecnologia, que atrai compradores e reinventa os equipamentos com rapidez, induzindo a novos gastos. “Num período de seis anos, o consumo recebeu produtos novos e indispensáveis para a sobrevivência”.

O valor das despesas dos catarinenses é o segundo maior do país, atrás só do Distrito Federal. Isso decorre, em grande parte, do preço dos imóveis em SC. Segundo a pesquisa do IBGE de 2008/2009, as famílias gastam em média R$ 1.003,24 mensais com habitação, o que significa 35,8% de toda sua renda.

Os vizinhos Rio Grande do Sul e Paraná gastam muito menos: R$ 794,06 e R$ 833,11 respectivamente. Apesar dessa grande diferença, Guedes acredita que os imóveis no Estado não são superavaliados: “se fossem, não vendiam. O que existe é uma política de incentivo ao consumo de bens, como imóveis, estimulada pelo governo”.

Catarinense gasta mais em lazer

Ainda comparando com os estados do Sul, os catarinenses gastam mais com lazer. São em média R$ 59,85 mensais com brinquedos, livros, revistas, diversões, esportes e outros. Os paranaenses gastam R$ 52,26 e os gaúchos R$ 40,37.

No fator transporte, ocupamos o primeiro lugar no país. As despesas somam R$ 667,45 por mês. Com o grupo que envolve plano de saúde, consultas, remédios, exames e outros serviços relacionados à saúde, os catarinenses são os que menos despendem dinheiro, em comparação com Paraná (R$ 171,78) e Rio Grande do Sul Saúde (R$ 174,07). Aqui são gastos em média R$ 162,91 por mês.

Santa Catarina é o terceiro Estado que mais gasta com fumo, ficando atrás do Rio Grande do Sul e de São Paulo.

Para acompanhar o aumento dos gastos, a renda das famílias também subiu. Em 2002/2003, o rendimento mensal de uma família catarinense era de R$ 1.893,22, obtidos através de salário, rentabilidade de aluguel, aposentadoria e outros meios. Em 2008/2009, passamos, em média, a R$ 3.335,53 por mês. A média do Brasil é de R$ 2.763,47. Apesar do otimismo transmitido pelos números, o economista Ricardo Guedes é cético: “Na vida real, os salários não são bons, e não existe emprego com a disponibilidade que aparenta”.

A presidente da Associação das Donas de Casa, Reneuza Marinho Borba, afirma que o aumento do poder aquisitivo fez com que as pessoas tivessem interesse em melhorar de vida. “A classe menos favorecida passou a ter acesso a eletrodomésticos. As famílias estão morando melhor, são mais exigentes e procuram qualidade.”

Reneuza afirma ainda que, antes, a preocupação com o orçamento era menor, e havia dificuldades em trabalhar com a relação receita X despesa: “hoje há um planejamento. As pessoas consideram sua renda na hora de gastar. Apesar de gastarem mais, estão pesquisando menores preços”.

Sociedade está menos desigual

A renda da população pobre aumentou, e, consequentemente, seus gastos quase dobraram em seis anos: em 2002/2003, cada pessoa pertencente a 40% das famílias com menores rendimentos gastava R$ 239,69 por mês. Esse valor passou para R$ 462,76 no período 2008/2009, o que nos levou do quarto ao primeiro Estado com maiores gastos de famílias humildes.

O consumo dos ricos de SC também cresceu. Em 2002/2003, a despesa por pessoa de 10% das famílias mais favorecidas era de R$ 1.630,36, e SC não ficava nem entre os dez primeiros estados com maiores gastos da classe alta. Em 2008/2009, a despesa por pessoa é a quarta maior do país, R$ 3.096,12.

Em Santa Catarina, o consumo de pobres e ricos não está tão distante: na primeira pesquisa, éramos o segundo Estado com menos desigualdade. Na segunda, dividimos o quarto lugar com o Rio Grande do Sul. A região sul é a menos desigual. “Rio Grande do Sul e Santa Catarina são considerados a Suíça brasileira, por causa da característica de colonização, da formação em pequenos grupos e cidades e das relações de consumo e produção. Em SC, por exemplo, temos cinco regiões distintas: agrícola, mineração, industrial, têxtil e serviços. Isso pode minimizar algumas desigualdades”, analisa o economista Ricardo Guedes.

Alimentação

Comparando os hábitos alimentares de 2002/2003 e 2008/2009, os catarinenses estão consumindo menos farinhas, massas, queijos, leite, leguminosas, cereais e aves. Segundo a nutricionista Gabriela Martinelli Neves, essa redução é negativa, já que os alimentos básicos são importantes para uma dieta equilibrada. Por outro lado, estão gastando mais em bebidas, carnes e peixe. Em ambos os períodos, a maior parte de todo o dinheiro destinado à alimentação é gasta com carne vermelha – em 2008/2009, a média é quase R$ 40 por mês.

Os pescados frescos ainda são pouco consumidos. Em 2002/2003, os catarinenses gastavam R$ 1,65 mensal, passando para R$ 3 em 2008/2009. “Pesquisas apontam para o alto preço como principal motivo para a baixa procura. Apesar de o Brasil ter uma das maiores reservas de pescado, o consumo anual per capita de peixe no nosso país fica bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, avalia Gabriela.

Reneuza Borba percebe que o arroz e o feijão, que sempre foram o prato principal da família, estão sendo deixados de lado, abrindo espaço para a infinita variedade de pratos pré-prontos. Segundo as pesquisas do IBGE, o gasto com frutas, legumes e verduras praticamente se manteve no período, ao mesmo tempo em que a compra de pratos prontos aumentou 0,64%. Segundo Gabriela Neves, a procura por alimentos preparados é cada vez maior por causa de sua praticidade, mas eles são mais calóricos, menos saudáveis e são responsáveis pelo aumento da obesidade.

Assim como para os alimentos congelados, a falta de tempo e a necessidade de rapidez favorecem as refeições em restaurantes ou lanchonetes. Em 2002/2003, 22,76% do gasto mensal das famílias com alimentação eram com refeições fora de casa. Em 2008/2009, esse número passou para 29,5%.

A nutricionista Gabriela diz ainda que a escolha por alimentos saudáveis pode ter relação com a renda: “A população mais pobre pode não ter tido acesso às mesmas informações sobre boa alimentação. Além disso, os custos dos alimentos funcionam como uma barreira para a alimentação saudável. Neste caso, a restrição econômica induziria a seleção de dietas mais densas energeticamente”.

A pesquisa do IBGE mostrou que a classe que ganha mais de R$ 10.375 gasta R$ 21,53 por mês com legumes e verduras. Já a classe mais pobre (que ganha até R$ 830), gasta apenas R$ 5,18. Com frutas, os mais ricos gastam R$ 32,57 e os mais pobres, R$ 6,01.

As famílias mais humildes de Santa Catarina não conseguem guardar dinheiro no final do mês. As que recebem até R$ 830 por mês costumam gastar R$ 1.100,12. Famílias que ganham entre R$ 830 e R$ 1.245 gastam R$ 1.360,05. As contas só param de ficar no vermelho a partir das famílias que ganham entre R$ 1.246 e R$ 2.490 e gastam R$ 1.925,16.

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