8 de out. de 2010

O transporte urbano guardam uma relação muito pequena com os verdadeiros custos sociais.

Paul Krugman

Economia do trânsito

Os suspeitos de costume no quadro dos comentaristas estão, inevitavelmente, argumentando que o transporte ferroviário deveria se autossustentar. A resposta óbvia é que o transporte rodoviário não o faz; por que somente o transporte público deve se autofinanciar, quando veículos privados geralmente rodam em estradas gratuitas construídas e conservadas pelos impostos?

Mas isso, de certo modo, não atenta para uma questão maior: o transporte urbano é uma área na qual sabemos que os preços de mercado guardam uma relação muito pequena com os verdadeiros custos sociais. Mesmo se ignoramos os impactos ambientais e as implicações de segurança nacional das importações de petróleo, o fato é que guiar numa área urbana, em especial na hora do rush, impõe enormes externalidades de congestionamento a outras pessoas.

E quero dizer enormes: Felix Salmon produziu um belo trabalho no ano passado situando em US$ 160 por dia o custo externo que se impõe a outras pessoas quando se guia em Lower Manhattan. (Não consegui encontrar a referência, mas Dave Barry fez certa vez uma pergunta às autoridades sobre quanto tempo leva para atravessar Manhattan de carro na hora do rush. A resposta foi que ninguém jamais conseguiu atravessar Manhattan na hora do rush.)

Agora, o conhecimento elementar de economia diz que a melhor resposta para essas externalidades é fazer as pessoas pagarem por esses custos sociais; se o fizéssemos, o Departamento de Trânsito de New Jersey poderia cobrar taxas muito mais altas! Mas como isso não vai ocorrer – na melhor hipóteses teremos algum dia uma modesta taxa de congestionamento – estamos no terreno da segunda melhor resposta.

E o transporte ferroviário tira pessoas das estradas, com isso produzindo um grande benefício que não aparece nos livros daquele Departamento.

Portanto, quem tentar fazer disso alguma espécie de questão de princípio – devemos sempre subsidiar qualquer forma de transporte – está simplesmente por fora da análise econômica e da realidade.

Paul Krugman | 7/10/2010 | 17h46

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