8 de jul. de 2010

Vale a pena jogar todas as energias na carreira e nenhuma na saúde?

Trabalhar demais engorda.

Como equilibrar sucesso na carreira e saúde?

Não esqueço a imagem que certa vez vi na capa de uma revista. Uma moça que conheci nos tempos de estudante aparecia na foto da capa segurando um trofeu numa cerimônia de premiação. Ela carregava nas mãos o símbolo de uma conquista profissional importante, a confirmação de que ela era muito boa no que fazia. Mas não pude deixar de notar o quanto ela estava gorda. Bem mais do que quando ela estava só aprendendo. Pensei: será que vale a pena jogar todas as energias na carreira e nenhuma na saúde?

A história parece ser bastante comum nos dias de hoje. O cidadão um dia percebe que passou os últimos meses, ou os últimos anos, com a cabeça tão enfiada nas exigências do trabalho, tão atribulado com uma rotina ensandesida de obrigações e urgências, que esqueceu que tinha também um corpo para cuidar e acabou perdendo o controle da balança. Há quem acumule riquezas na mesma medida em que acumula gordura nas artérias, até infartar aos 50 ou até aos 40 anos e só aí se dar conta de que deveria ter se cuidado mais. Vale a pena?

Na semana passada, ouvi histórias de duas meninas bonitas que começaram a carreira abrindo mão do autocuidado, mas logo resolveram reverter o processo. Pelo que observo, são profissionais apaixonadas pelo que fazem, dedicadíssimas e jovens. Têm aquela vontade enorme de fazer acontecer, de crescer na carreira e chegar “lá”, sendo esse “lá” provavelmente algum lugar imaginado de prestígio e conforto financeiro que elas creem ser o provável destino de quem trabalha bem e bastante. E, por enquanto, parece que estão acertando. Já conquistaram elogios, bolsas de estudos, prêmios. E, felizmente em tempo, perceberam que essa jornada será melhor para elas se não descuidarem da máquina.

Lúcia* engordou dez quilos no primeiro ano de estágio. Seus dias eram uma loucura. Saía cedo de casa, ia de ônibus até a faculdade, um tanto longe de onde mora. À tarde ia de ônibus para o estágio, onde almoçava, e à noite, depois da casantiva viagem de volta para casa, tinha de dar conta dos trabalhos do curso. Não tinha tempo para comer direito, nem descansava muito. Era bastante ansiosa. Frequentemente atacava doces e comidas gordurosas em quantidades inadequadas. As roupas antigas não serviam mais.

Mais ou menos na mesma época, Beatriz* aprendia que, em alguns empregos, trabalhar direito podia significar deixar a boa forma para o último lugar. Enquanto procurava mostrar serviço numa área em que era pouco experiente, engordou cinco quilos. Não era o que estava procurando e algum tempo depois conseguiu mudar de emprego.

Lúcia acordou para o que estava deixando acontecer com seu corpo durante um período de férias. “Não sou isto”, disse a si mesma. E decidiu se cuidar. Procurou um médico que propôs um tratamento baseado na reeducação alimentar. Ela seguiu a orientação à risca e começou a perder peso. Animada com a conquista, começou a fazer exercícios todos os dias. Hoje Lúcia está esbelta e desfila roupas novas que lhe caem muito bem. Diz que come bem menos do que antes e se sente satisfeita. A ansiedade diminuiu visivelmente.

Beatriz lamenta os quilos que ganhou no emprego anterior e ainda não conseguiu voltar ao peso desejado, mas parou de engordar. Tanto ela quanto Lúcia continuam gostando de trabalhar da melhor forma possível, e colhem os frutos dessa dedicação. E elas trabalham sentadas. Mas já estão mais atentas às consequências de não compensar a dedicação à carreira com uma bela dedicação ao que o corpo pede: nutrientes, água e movimento.

Que bom que elas não demoraram muito a interromper a decadência do corpo. Deixar o problema aumentar dificultaria bastante a solução no futuro. Lúcia ouviu do seu médico que, se ela mantivesse aquele peso e, dali a alguns anos, engravidasse, dificilmente conseguiria emagrecer. Aumentariam suas chances de ficar gordas para sempre.

Será que dá para ser uma profissional incrível, com direito a prêmios e promoções, comendo direito, dormindo bem e fazendo exercícios pelo menos três vezes por semana?

No último mês, ouvi e li especialistas em gestão de carreira e administração do tempo e profissionais de saúde. Todos eles dizem que conciliar sucesso na carreira e saúde é uma questão de traçar metas, estabelecer prioridades e reservar um tempo adequado para as coisas mais importantes. Nem o trabalho nem a saúde podem ser deixados para depois.

Há quem cite aquela história da galinha dos ovos de ouro. A galinha especial produz riqueza enquanto está viva. Se a galinha adoece ou morre, adeus, ovos. A moral da história é que, se a gente foca só em alcançar as metas profissionais e financeiras, deixando a saúde de lado, vai haver uma conta a ser paga mais tarde.

O economista Eduardo Giannetti, em seu livro O Valor do Amanhã (Companhia das Letras, 2005), sugere que a gente encare a saúde mais ou menos como o orçamento doméstico. Pensando no orçamento doméstico, pode-se optar por guardar dinheiro durante um tempo e lá na frente comprar um carro à vista, arcando com o ônus de ficar sem carro durante o período de poupança. Ou pode-se optar por comprar e usar o carro agora, adquirindo uma dívida que inclui o pagamento de juros altos desde agora até quando o carro já estiver gasto.

Com a saúde, segundo Giannetti, a decisão é parecida. Pode-se optar por poupar o corpo, guardando saúde para a velhice. A poupança do corpo é o acúmulo de saúde, que a gente procura conseguir por meio de hábitos saudáveis (comer direito, dormir direito, fazer exercícios, ter lazer e relacionamentos satisfatórios). Com isso, espera-se ter saúde para desfrutar daqui a algum tempo. Mas pode-se optar, ao contrário, por gastar a saúde agora e pagar a conta depois. É o caso do cidadão que, enquanto jovem, trabalha demais, come mal, dorme pouco, bebe muito, fuma e é sedentário. O tamanho da conta que virá depois é que é a surpresa.

Há que se considerar também que, quando a gente decide interromper o trabalho e calçar o tênis para se exercitar, está deixando trabalho para depois. Isso pode ser ruim, se o trabalho adiado é importante. E pode ser bom, se o mais importante já foi feito.

E para você, o que é mais importante? Dar tudo de si no trabalho hoje para desfrutar de tempo livre no futuro ou poupar saúde agora e conquistar sucessos e dinheiro aos poucos?

*Troquei o nome das meninas para não serem indentificadas.

Francine Lima | 08/07/2010 - 08:37



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