28 de jun. de 2010

Mauricio de Sousa prepara sucessão e negocia parcerias internacionais

Desenhista de 74 anos define nova estrutura da empresa para evitar disputa entre os dez filhos e atrair sócios externos

Segunda-feira, 28 de junho de 2010 7:25 | Bianca Pinto Lima

SÃO PAULO - Criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa afirma estar ansioso para voltar a fazer o que mais gosta: desenhar. Aos 74 anos, ele iniciou na prática a sucessão dos negócios, processo que visa a evitar conflitos entre os dez filhos e acelerar o processo de internacionalização da marca por meio de parcerias no Brasil e no exterior. Com a empresa profissionalizada, Mauricio espera atrair investidores e sócios que façam a companhia crescer em áreas estratégicas, como a de animação.


O desafio da sucessão não é fácil. De quatro casamentos diferentes, os dez filhos têm entre 12 e 50 anos. Deles, seis trabalham atualmente na empresa - sem contar os outros membros da família. A filha Mônica, que serviu de fonte de inspiração para os quadrinhos, é diretora comercial e responde pela área de licenciamento, responsável por 70% do faturamento. Mauro Takeda e Sousa assumiu recentemente a parte de teatro e shows. Já a irmã Yara Maura comanda o escritório em Nova York e é diretora internacional, enquanto o irmão Márcio Roberto cuida da parte de som dos filmes de animação.

Maurício não revela o faturamento da empresa, que é vista pelo mercado como uma potência nacional na área de licenciamento. Este setor movimenta no Brasil cerca de R$ 4,4 bilhões por ano e tem a MSP entre os principais players, ao lado de Disney e Warner. "O licenciamento depende de personagens fortes e a Turma da Mônica já é consolidada", afirma o diretor acadêmico da pós-graduação da ESPM, Edson Crescitelli, especialista no setor. Na área de quadrinhos, a MSP também é líder no País, com 86% do mercado. Internacionalmente, contudo, a empresa não faz frente a gigantes como a Disney e ainda precisa ganhar volume e constância na produção, principalmente de desenhos animados.

Profissionalização

Para auxiliar no processo de sucessão, Mauricio contratou o escritório Abe, Costa, Guimarães e Rocha Neto Advogados, que já deu início ao projeto. "O desafio é manter ao longo das gerações a coerência editorial e criativa", diz Marcos Seiiti Abe, sócio do escritório. Segundo ele, o objetivo é buscar mecanismos que façam com que investidores e parceiros tenham ao longo do tempo a garantia de uma empresa profissionalizada. "Os herdeiros entendem que é necessário um acordo de acionistas que permita um alto grau de governança", afirma Abe.

"Os meus herdeiros que estiverem na empresa precisam ser profissionais, senão ficarão como herdeiros apenas. Quem quiser trabalhar, que se prepare e vá estudar", ressalta Maurício, que diz não ver problema no fato de a empresa ser familiar, desde que bem organizada. "Funciona bem quando há um interesse único, uma filosofia bem definida e um cuidado na estrutura", diz.

O modelo de gestão que será adotado, segundo Mauricio, ainda está em estudo. Mas alguns pontos já foram definidos. Um deles é que o desenhista migraria para o conselho da empresa e se dedicaria apenas à área de criação, sem assumir diretorias. Outro, ligado ao plano de parcerias e internacionalização, é que as divisões de parques temáticos e animação se transformariam em empresas independentes dentro da companhia. "Quero que sejam áreas negociáveis para que eu possa no futuro ter sociedade ou até vender", afirma Mauricio.

Segundo o desenhista, a empresa já vem até negociando uma sociedade na área de parques com um grupo de investidores brasileiros, americanos e canadenses. "Estamos discutindo e estudando parcerias societárias. E eu não quero ser maioria, mas sim uma feliz minoria", diz ele. O Parque da Mônica, que após 17 anos fechou as portas no Shopping Eldorado, em São Paulo, deverá ser reaberto no shopping Nova 25, que está sendo construído na Marginal do Pinheiros, também na capital paulista. "Tudo indica que este será o local", diz Mauricio. O empresário também planeja a inauguração de um parque em Angola ainda este ano, o primeiro fora do Brasil.

Presença na China

Iniciada em 2008, a parceria com o governo chinês em um projeto de alfabetização também está entre as prioridades do desenhista no cenário internacional. A iniciativa envolve mais de 180 milhões de crianças do país, que aprendem a ler e escrever com a Turma da Mônica. Além de revistas e material digital, a MSP se prepara para lançar em setembro um desenho animado dublado em chinês.

É exatamente pelas animações, com presença em TVs e cinemas, que Maurício pretende se fortalecer globalmente. "Não é que eu queira fazer a internacionalização da empresa, eu preciso fazer a internacionalização para poder diluir os custos. Nosso produto é muito caro, principalmente os desenhos animados, e precisamos vender para no mínimo dez países", afirma Maurício.

Para o consultor de empresas familiares Renato Bernhoeft, o fato de o desenhista estar cuidando da própria sucessão e preparando os herdeiros serve como um atrativo para fechar futuros negócios. Ele afirma, contudo, que a grande questão é saber como os filhos vão se entender na qualidade de sócios. "O próprio Maurício de Sousa é um personagem, uma pessoa pública conhecida, e suceder um personagem é bem mais difícil.", diz.



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